A pesquisa pelo termo “nômade digital” na plataforma YouTube, que concentra a maioria dos produtores de conteúdo brasileiros voltados a este estilo de vida, aumentou 43% no início de 2025, em comparação ao mesmo período em 2024, conforme dados do Google Trends. Com cada vez mais experiências nômades compartilhadas na internet, mais pessoas se encantam com a ideia de trocar a rotina tradicional por um dia a dia de trabalho enquanto viaja pelo mundo.
Trabalhar remotamente enquanto se desloca por diferentes países parece um sonho de liberdade, mas como é possível, neste cenário, manter o equilíbrio e o progresso na carreira e reduzir os impactos na saúde mental?
Conforme o Relatório Global de Tendências Migratórias, da Fragomen, empresa especializada em migração, o estilo de vida dos nômades digitais conta atualmente com mais de 35 milhões de adeptos ao redor do globo, tendo sido estimado que até 2035 existam cerca de 1 bilhão de nômades digitais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os profissionais itinerantes já ultrapassaram quase 17 milhões de pessoas, o que representa um aumento de 131% em relação a 2019, anterior à pandemia.
“Muitos jovens têm escolhido o nomadismo digital por uma combinação de fatores, incluindo a busca por liberdade, flexibilidade e um estilo de vida menos convencional. A possibilidade de trabalhar de qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de estar fisicamente em um escritório, permite maior controle sobre a rotina, facilitando equilibrar trabalho e lazer. Além disso, viver em países com custo de vida mais acessível se tornou uma estratégia para muitos, permitindo expandir conhecimento, ampliar as possibilidades profissionais e se aprofundar em novos idiomas sem abdicar da qualidade de vida” declara o autor do livro “Smart Skills: Descubra seus pontos fortes para uma carreira produtiva e feliz”, Antonio Muniz.
Quais habilidades são necessárias para se tornar um nômade digital?
Antes de embarcar no estilo de vida nômade, é fundamental desenvolver algumas habilidades que facilitam tanto a adaptação quanto a manutenção do equilíbrio emocional e profissional. Conhecidas como smart skills, essas competências vão além das habilidades técnicas e incluem aspectos como inteligência emocional, resiliência e gestão do tempo.
“Ao optar pelo nomadismo digital, é essencial ter um alto grau de autonomia e disciplina. Diferente de um trabalho convencional, onde há horários e processos bem estabelecidos, o nômade digital precisa se organizar para manter a produtividade sem perder o foco no bem-estar. Além disso, habilidades como resolução de problemas, flexibilidade e comunicação intercultural são fundamentais para lidar com desafios inesperados e criar boas conexões ao longo da jornada” explica Antonio.
Outro ponto essencial é a capacidade de adaptação. Lidar com mudanças constantes exige um mindset flexível e aberto a novas experiências. A habilidade de autogerenciamento financeiro também se destaca, já que o controle de gastos e a previsibilidade de renda podem determinar a viabilidade desse estilo de vida a longo prazo.
“Desenvolver smart skills antes de tomar a decisão de se tornar um nômade digital pode ser o diferencial entre uma experiência enriquecedora e um caminho repleto de frustrações. Ter consciência dos desafios e estar preparado para enfrentá-los aumenta as chances de sucesso e torna a jornada mais sustentável e prazerosa”, orienta o especialista.
Habilidades, nomadismo e saúde mental
Se, por um lado, o nomadismo digital parece sinônimo de liberdade e aventura, por outro, há desafios emocionais que nem sempre são abordados nas plataformas digitais e redes sociais, lugares em que muitos profissionais e influencers compartilham suas experiências em relação ao nomadismo. A constante mudança de ambiente, a distância da família e a necessidade de adaptação a novas culturas podem gerar sentimentos de solidão e instabilidade emocional.
“A vida nômade traz muitos benefícios, mas também pode ser solitária e exaustiva. A ausência de uma rede de apoio fixa, o fuso horário diferente dos amigos e familiares e a dificuldade em estabelecer uma rotina consistente são fatores que podem impactar a saúde mental dos nômades digitais. E aqui habilidades como comunicação intercultural, flexibilidade, adaptação e autonomia podem contribuir com uma vida mais equilibrada ‘na estrada’, ressalta Muniz
Porém, apesar dos desafios, muitos nômades encontram estratégias para lidar com os impactos do estilo de vida. Optar por espaços compartilhados de hospedagem, como um hostel, ou mesmo buscar plataformas de house sitting (modalidade em que o viajante se hospeda em uma casa gratuitamente em troca de cuidados com os animais de estimação do proprietário da residência enquanto ele se ausenta), comunidades online, grupos locais e utilizar espaços de coworking podem ser medidas que irão ajudar a reduzir a solidão e criar conexões. Além disso, o uso de terapia online tem sido uma alternativa eficiente para manter o acompanhamento psicológico, independentemente do local onde o viajante esteja.
“É fundamental ter em mente que a força de vontade é um recurso importante, porém limitado, e depender completamente da força de vontade em uma experiência como essa pode trazer exaustão e estresse. Planejar a rotina diária, como as refeições, as tarefas mais repetitivas, pode contribuir para que o viajante use essa força de vontade para situações mais estratégicas, tornando a vida mais fácil. E em relação ao trabalho na vida nômade, é preciso saber que passamos a gostar das coisas que fazemos quando nos dedicamos e fazemos bem. Nem sempre se trata da busca de um propósito ou algo maior, e sim da busca de estrutura, sobretudo financeira, para permitir que a pessoa viva em um ambiente novo e sempre em movimento”, ressalta Antonio.
Para quem deseja adotar esse estilo de vida, é essencial planejar não apenas a parte financeira e logística, mas também desenvolver estratégias para manter a saúde mental em equilíbrio. Afinal, viver viajando pode ser uma experiência enriquecedora, desde que os desafios sejam reconhecidos e gerenciados de forma saudável.
Como estruturar uma carreira sustentável sendo nômade digital?
Um dos maiores desafios do nomadismo digital é a estabilidade profissional e financeira. Embora o trabalho remoto tenha se tornado mais comum, garantir uma fonte de renda previsível e oportunidades de crescimento exige planejamento e adaptação.
“O ideal é que o profissional tenha uma estratégia bem definida antes de adotar o nomadismo. Conhecer nossa personalidade e nossos pontos fortes é algo essencial para definir o sucesso pessoal e profissional, inclusive em uma tomada de decisão como essa, afinal, não adianta nada permanecer em um lugar que não faz o indivíduo feliz, muito pelo contrário, ao longo prazo isso pode fazer mal”, explica Antonio.
Profissões ligadas à tecnologia, marketing digital, design, produção de conteúdo e consultoria são algumas das mais populares entre nômades digitais, por oferecerem flexibilidade e possibilidade de trabalho remoto.
“No entanto, independentemente da área, manter um planejamento financeiro detalhado, investir no desenvolvimento profissional e buscar novas oportunidades são práticas essenciais para garantir uma jornada sustentável. O candidato ao nomadismo pode e deve escolher objetivos de vida que estejam alinhados com suas inteligências natural e técnica. Isso não só aumentará as chances de sucesso no novo modelo pessoal e profissional, mas também auxiliará na manutenção da saúde mental intacta, evitando o esgotamento e a frustração”, finaliza Muniz.
Daniella Pimenta 11973971591 [email protected]